Falando Sobre... Fluxo de Caixa e os ERP
Será que vou ter condições de pagar essas compras de materiais? Vai ser
interessante adiantar os meus recebíveis? Vou ter que pedir algum empréstimo ao
banco? Quando? Quanto de dinheiro preciso colocar na frente para que aquele
projeto comercial opere sem apoio financeiro?
Para responder essas e muitas outras perguntas, a ferramenta ideal a ser
utilizada é o Fluxo de Caixa. Ela é a grande parceira dos gestores de negócio,
sejam eles da área financeira ou não, onde posso afirmar, sem ter medo de
errar, que é a ferramenta de uso obrigatório de todos os gestores das empresas.
O grande problema é que muitos ERP que deveriam dar pleno apoio à
formatação, atualização e a utilização do Fluxo de Caixa, tem alguma limitação
conceitual e/ou operacional, fazendo com que os gestores das empresas passem a
utilizar planilhas eletrônicas (muitas vezes com erros significativos) para
este fim.
Sem contar que muitos dos próprios gestores de empresas têm carências
conceituais sobre o tema, dificultando bastante o uso adequado do Fluxo de
Caixa onde e quando ele se faz necessário.
Vamos falar sobre isso!!!
Uma Visão Básica de Fluxo de Caixa
Em essência, o Fluxo de Caixa é uma ferramenta de controle e de análise
das movimentações financeiras, que pode ser aplicado nas decisões do dia a dia,
abrangendo as ações operacionais, táticas e estratégicas da empresa, a gestão
orçamentária e a gestão de projetos e contratos.
Nele pode ser visto de forma separada e confrontada todas as
movimentações de entrada e saída de dinheiro, analisando, inclusive, os seus
saldos.
Temos quatro tipos de Fluxo de Caixa
=> Realizado: que utiliza as informações das obrigações a pagar
e a receber que já foram feitas
=> Projetado: que utiliza as informações das obrigações a pagar
e a receber cujos os valores já são conhecidos.
=> Orçado: que utiliza as informações das obrigações a pagar e a receber estimados
em um orçamento.
=> Descontado: que utiliza as informações das obrigações a pagar
e a receber no valor presente, descontando eventuais juros e taxas. Este pode
ser usado em operações de Fluxo de Caixa Projetado e Orçado, e em análises
sobre Fluxo de Caixa Realizado.
Cada Fluxo de Caixa pode ser trabalhado usando os três regimes, que são:
=> Regime de Caixa: que retrata efetivamente quando uma obrigação foi
paga ou recebida.
=> Regime de Competência: que retrata quando uma obrigação a pagar ou
a receber foi constituída.
=> Regime Gerencial: que retrata quando uma obrigação (financeira ou
gerencial) a pagar ou a receber foi efetivamente alocada a um contrato, projeto
ou centro de custo.
Como eu sei que muita gente tem dificuldade em enxergar as diferenças
sobre os regimes, vou montar um pequeno exemplo.
Uma empresa de Construção Civil comprou um guindaste no dia 01/10/2010
pelo valor de R$1 milhão (valor ilustrativo) e planejou o pagamento dele em 20
parcelas sem juros de R$50 mil, com a primeira em 01/12/2010 e a última em
01/07/2012. O guindaste foi entregue no dia 15/01/2011 e foi utilizado no
Contrato A do dia 20/02/2011 a 20/06/2011, sendo alocado neste contrato uma
taxa gerencial diária de R$100,00.
No regime de Caixa o desembolso do guindaste foi das 20 parcelas de R$50
mil, com as diversas datas de pagamento; no regime de Competência o
investimento do guindaste foi de R$1 milhão na data da compra (em alguns casos,
é considerado a data da entrega); no regime Gerencial, para a empresa a sua
entrada foi no dia 15/01/2011, e começou a pagar depreciação desse ativo, mas
tem uma “receita” de uma taxa de R$100,00 por 121 dias (total de R$12.100,00)
de alocação desse ativo no Contrato A.
Os conceitos envolvidos no Fluxo de Caixa são basicamente esses, mas
tudo vai depender em como você vai desenvolver e aplicar esta ferramenta e como
os sistemas vão apoiá-lo.
Fluxo de Caixa e os ERP
01) Se Você Tem Um ERP, Não Faça o Seu Fluxo de Caixa em Planilha
Eletrônica
Quando fiz um projeto de ERP numa empresa que tinha 3 lojas, atuando em
2 ramos diferente, o dono da empresa me mostrou uma planilha eletrônica onde
ele fazia o seu “Fluxo de Caixa”, e me disse que, com base nas informações que
ele veio colhendo, ele tomou a decisão de vender uma loja.
Eu vi a planilha eletrônica e fiz os seguintes comentários: você está
usando, numa única análise informações no regime de Caixa e no regime de
Competência; tinha informações que estavam duplicadas; tinha cálculos errados;
aquilo estava parecendo um DRE (Demonstrativo de Resultado de Exercício… que é
uma grande ferramenta) e não um Fluxo de Caixa; para tomar a decisão que ele
estava querendo tomar, um DRE era interessante, mas ele havia se “esquecido” de
colocar o estoque, e sem essa informação, nenhuma análise assertiva poderia ser
feita.
Estamos falando de um gestor qualificado e experiente de empresa, agora
imagina: o que pode acontecer em outras situações com profissionais não tão bem
qualificados?!?!?!
Se ele estivesse usando o seu ERP (que tinha um Fluxo de Caixa tosco,
mas tinha), ele poderia ter errado menos nas suas decisões.
Fluxo de Caixa em planilha eletrônica só se tiver conhecimento sobre o
assunto e se o seu ERP não tiver este recurso.
02) Você Tem Certeza Que o Seu Fluxo de Caixa Está Estruturado
Corretamente?
É muito comum, durante uma implantação de ERP ou até mesmo num
diagnóstico de ERP implantado, encontrarmos pessoas utilizando Fluxos de Caixa
imaginando que ele estivesse refletindo uma realidade, mas ele estava com algum
ponto diferente.
Isso acontece porque vários parâmetros podem ser utilizados na sua
montagem, como por exemplo, o uso ou não de contas garantia, de contas caução,
de que forma vou usar alguma conta de investimento, etc. E quando quer fazer
uma nova análise, um ou mais parâmetros não são ajustados como deveria.
Uma boa solução para isso é ter na tela de uso uma ficha resumo dos
parâmetros utilizados.
Outro problema são os ERP que não tem condições de fazer parametrizações
adequadas nos seus Fluxos de Caixa, como incluir ou não uma determinada conta
bancária ou alteração de regime para análise.
Estamos falando aqui de pequenos esforços que evitam muitos erros.
03) O Problema de (Não Conseguir) Usar Vários Regimes
Trabalhar no regime Caixa é o padrão no mercado de ERP; uma quantidade
razoável de fornecedores de ERP conseguem trabalhar com o regime de
Competência, mas muito poucos conseguem operar Fluxo de Caixa no regime
Gerencial.
De um lado temos os gestores com dificuldades de entendimento sobre qual
seria o regime ideal de formatação do Fluxo de Caixa para uma determinada
análise. Em quase todos os processos de Seleção de ERP, eu acabo tendo que
solicitar o ajuste da RFP (Request For Proposal - basicamente é a Lista
de Funcionalidades Solicitadas de um ERP) sobre as especificações dos Fluxos de
Caixa.
Do outro lado, os fornecedores de ERP também tem dificuldades
conceituais e só colocam no seu sistema as funcionalidades que os seus clientes
pedem.
Muitos fornecedores de ERP ainda dizem “é só isso que eles querem”, e eu
respondo: “será que eles não pedem mais porque não tem nem ideia do que
precisam e do que poderiam ter acesso?”
Falta um pouco de vontade para que as coisas melhorem.
04) Seu ERP Precisa Conseguir Conciliar Todos os Tipos de Fluxo de Caixa
Pegar o Fluxo de Caixa Realizado, depois adicionar todas as obrigações
do Fluxo de Caixa Planejado, em seguida associar as obrigações ainda não
utilizadas das projeções do Fluxo de Caixa Orçado e, em algumas partes trazer a
valor presente num Fluxo de Caixa Descontado, não é uma atividade trivial e os
ERP deveriam fazer isso sempre, e de forma fácil, mas isso não acontece.
Muitas das vezes, para compensar as limitações dos ERP de mercado, os
gestores financeiros fazem malabarismos nas operações de Contas a Pagar e
Contas a Receber, utilizando obrigações com status específicos para efetuar
esse tipo de controle.
Fornecedores de ERP: já passou da hora disso mudar!!!
05) Como Usar o Fluxo de Caixa É Muito Importante
A maioria dos ERP tem uma função de Fluxo de Caixa que você consegue
parametrizar muita coisa, mas sempre com o foco geral do negócio, ou com
parâmetros cujo o ajuste é muito manual… as coisas não deveriam ser feitas
assim!!!
Por que na hora que o Comprador recebe um Planejamento de Materiais ele
não tem a opção de ver o Fluxo de Caixa com esse impacto? Enxergar nos pontos
que a empresa pode precisar de recursos bancários, saber quais Ordens de Compra
estão impactando mais, para que ele possa propor uma nova forma de pagamento
para esses fornecedores?
Por que em cada Contrato, não tem uma visão de Fluxo de Caixa Gerencial
somente dos pontos relacionados ao seu contrato? Ou ter no Fluxo de Caixa uma
visão de um conjunto de contratos relacionados a um determinado cliente?
Essas e muitas outras formas de uso dos Fluxos de Caixa podem trazer um
valor enorme para os processos de tomada de decisão das empresas.
06) O Fluxo de Caixa Precisa Ter Capacidade de Navegação nas Informações
Associadas
Um número razoável de ERP conseguem ter uma navegação drill-down
ou outros tipos de navegação detalhando o que foi apresentado no Fluxo de
Caixa.
Esse tipo de pesquisa facilita enormemente as verificações mais
apuradas, e não custa muito ser feito.
07) A Capacidade de Simulação Fácil no Fluxo de Caixa Faz Toda a
Diferença
Num processo de Seleção de ERP, eu questionei o primeiro fornecedor
sobre a capacidade de realizar simulações de ações (vender uma empresa no
grupo, fazer uma campanha comercial dando um parcelamento em 20 vezes sem
juros, etc.), ele disse que tinha e que era fácil fazer.
Então pedi que ele fizesse um exemplo de compra de um Projeto de ERP.
Ele fez todo o ciclo, abrindo um pedido, depois detalhou as informações do
contrato, lançou todas as obrigações a pagar num status específico e depois
ajustou o Fluxo de Caixa para enxergar o que ele fez. No final da apresentação,
perguntei o que que deveria ser feito caso ele não quisesse mais essa
informação. Ele me disse que precisava desfazer tudo no sistema.
Sabe qual é o verdadeiro problema neste caso? Eu vi outro sistema, e
outro, e outro… e todos que tinham esse recurso, eram muito parecidos com isso.
TEM QUE TER UMA MANEIRA MAIS FÁCIL!!!
Só precisamos de um ambiente de simulação específico de Fluxo de Caixa,
onde possa ser colocado e ajustado lotes de informações e, depois de analisado,
ter as informações retiradas ou efetivadas facilmente. Só isso.
08) As Dificuldades Operativas do Fluxo de Caixa Descontado
Trazer receitas a valor presente exige um conjunto de cálculos que são
específicos de um tipo de transação dentro de uma instituição financeira.
Antecipação de boletos no Banco A gera um valor com uma entrega numa data, já
no Banco B, é outro valor com outra data de entrega do dinheiro.
Nas operações de pagamento antecipado de empréstimo a coisa complica
ainda mais, onde cada contrato tem um perfil de aplicação do imposto e das
taxas, além de ter algumas formas de aplicação dos cálculos financeiros que
podem ser diferentes, mesmo em contratos que sejam da mesma instituição
financeira.
Sabe o que acontece com muitos ERP? Eles colocam uma taxa padrão em cada
caso e vida que segue. Com sorte, você fica com um número aproximado para
pensar.
Sei que isso é difícil de ser feito no sistema e gera alguma demanda
extra de mão de obra para operacionalizar, mas tem as suas compensações.
09) A Operação do Financeiro e os Impactos no Fluxo de Caixa Projetado e
Orçado
Como já falei anteriormente, muitos ERP de mercado trabalham com Fluxo
de Caixa Projetado e Orçado lançando obrigações a pagar e a receber com status
específicos… isso realmente é muito comum no mercado.
O que eu não comentei é o que acontece quando chegam as obrigações a
pagar e a receber representadas pelas que foram colocadas anteriormente.
Quando as obrigações são colocadas manualmente isso é mais fácil, basta
mudar de status, agora quando vem de forma automática como devemos proceder?
Normalmente as empresas precisam contar com heróis no financeiro para
caçar esse tipo de obrigação na hora certa e retirá-la ou inativa-la (depende
do padrão no ERP). Pode ter casos de centenas de lançamentos desse tipo de
obrigação por mês.
Se o fornecedor de ERP quiser manter esse processo dessa forma, ele
deve, pelo menos colocar uma tela para consolidar as informações e fazer trocas
mais rápidas. Pelo menos isso.
10) Ainda Tem Muita Gente Que Precisa Entender Sobre Fluxo de Caixa
Depois de analisar bastante o assunto, eu cheguei à conclusão que o maior
problema do uso dos Fluxos de Caixa nas empresas é a falta de conhecimento que
as pessoas envolvidas na criação dos ERP e nas operações dos ERP nas empresas
tem.
Se os profissionais dos fornecedores de ERP soubesses realmente sobre
Fluxo de Caixa, a sua importância e as formas de uso, não fariam sistemas tão
limitados assim.
Se os clientes de ERP realmente soubessem das potencialidades de uso dos
Fluxos de Caixa nas suas operações, eles iriam exigir melhorias significativas
dessa funcionalidade.
Não posso acreditar que o problema seja por acomodação.
Tudo que conversamos neste artigo foi sobre Fluxo de Caixa Direto, mas também existe o Fluxo de Caixa Indireto, com o uso do Balanço Patrimonial. Existem várias possibilidades de visualizações dos Fluxos de Caixa e ainda metodologias avançadas de análises. Mas, se a sua empresa conseguir operacionalizar corretamente com o básico (que foi o que trabalhamos no artigo), vocês verão bons resultados nas suas tomadas de decisão.
Fluxo de Caixa bem feito/aplicado = Decisões financeiras bem suportadas
Fluxo de Caixa bem feito/aplicado = Decisões financeiras bem suportadas
O que mais você precisa saber para colocar tempo, energia e dinheiro
para operacionalizar o seu Fluxo de Caixa como deve?
Mãos e mentes à obra!!!
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Gratuito: Livro Falando Sobre ERP
Gratuito: Clube do ERP (LinkedIn)
Mauro Oliveira
Horrível não me
ResponderExcluirAcrescentou nada