Falando Sobre... Ecossistemas de ERP




Vamos começar este artigo analisando o seguinte caso:

O Gestor do Projeto de Seleção de ERP, de uma empresa de médio porte da área de máquinas e equipamentos, alinhou as propostas financeiras apresentadas pelos fornecedores de ERP e chegou à seguinte conclusão:
Investimento Total do Fornecedor A: R$500.000,00
Investimento Total do Fornecedor B: R$750.000,00
Investimento Total do Fornecedor C: R$900.000,00

Nesta formatação, ele levou em conta os valores da licença de uso dos sistemas, os valores do serviço de implantação e 2 anos de taxas de manutenção e suporte. Com isso, o Fornecedor A foi escolhido.

No final da implantação, que fora conduzida por outro gerente, foi verificado que o investimento total do projeto chegou a R$1,5 milhão.

O Gerente da Implantação do ERP foi questionado pela Diretoria em relação à diferença do investimento realizado com o previsto e ele fez a seguinte explicação:

=> Devido às características tecnológicas do ERP selecionado tivemos que adotar um Banco de Dados que não tínhamos conhecimento sobre ele e gastamos com treinamentos e serviços extras de suporte.

=> O ERP escolhido exigia muito da nossa rede e tivemos que trocá-la.

=> Apesar dos nossos servidores serem bons, o ERP selecionado precisava de equipamentos ainda melhores, e com a atualização que o sistema teve, tivemos que melhorá-los ainda mais.

=> Devido às nossas características de operação e o serviço oferecido pelo Fornecedor de ERP, tivemos que trocar o serviço de suporte de segundo nível para primeiro nível. Mesmo aumentando o custo ficou mais barato e mais funcional do que se colocássemos uma estrutura interna para isso.

=> Durante a implantação do módulo de MRPII (Gestão da Produção) e de Custos percebemos que precisávamos de mais conhecimento e de experiência (que o Fornecedor do ERP não tinha) e tivemos que contratar consultorias e treinamentos para isso, sem contar que o Fornecedor do ERP teve que cobrar a mais para cobrir a improdutividade da implantação.

=> Devido a características do ERP tivemos que atualizar o sistema operacional de todas as estações de trabalho e fazer up grade em 25% delas.

Mas, se fosse escolhido o Fornecedor C, muito provavelmente nada disso teria sido necessário e poderíamos ter economizado R$600.000,00.

O caso acima infelizmente é mais comum do que gostaríamos, e analisando de forma retrospectiva, e somente no aspecto financeiro, fica fácil dizer que o Gerente do Projeto de Seleção de ERP deveria ter sido mais cauteloso no seu processo e ter incluído os pontos adjacentes ou correlatos ao ERP… o que chamamos aqui de Ecossistema do ERP… nas suas avaliações financeiras e nos relatórios. Olhando em retrospectiva fica realmente fácil ver isso, mas poucos conseguem entender a dificuldade que esse profissional passa tendo que lidar com informações incompletas, vagas e/ou mal intencionadas que alguns vendedores de ERP as vezes fornecem, poucos recursos de tempo e de dinheiro para validar as questões técnicas e/ou de processos do ERP ou ainda o baixo nível de informação e de colaboração que esse gestor tem dentro da sua própria empresa.

Selecionar, implantar e gerenciar a pós-implantação de ERP exige conhecimentos e habilidades muito específicas, que normalmente precisam unir Gestão de Negócios com Gestão de Tecnologia da Informação, e um dos pontos dentro dessa composição está o entendimento e a aplicação de tudo relacionado aos Ecossistemas dos ERP.

O Que É Um Ecossistema de ERP?

Se falarmos da origem da palavra, Ecossistema = Sistema Onde Se Vive, foi usado inicialmente para entender aspectos biológicos, onde retrata o conjunto formado por comunidades que habitam e interagem em determinada região… exatamente igual ao que acontece com o mundo dos ERP.

O ERP somente pode existir quando interage com outras “comunidades”, que aqui vamos separá-las em: Infraestrutura de TI, Softwares, Hardwares, Serviços e Conteúdos.

As composições dos Ecossistemas dos ERP são únicas para um determinado contexto, impactando e sendo impactado pelos clientes, fornecedores, localização, momento histórico, situação financeira, contextos, etc. Esse conjunto de possibilidades, que é dinâmico, e às vezes incerto, torna ainda mais difícil a modelagem do Ecossistema em qualquer etapa da maturidade do ERP na empresa.

Vamos Detalhar Um Pouco Mais o Que Está Contido nos Ecossistemas dos ERP

Infraestrutura de TI

Ela é a base onde tudo acontece e precisa tomar um cuidado especial para que fatores como segurança, praticidade operacional e performance fiquem em bons níveis de trabalho.

Cuidados relevantes com backup/recovery e administração de Banco de Dados, redes, links de internet, plataformas mobile, gestão de arquivos, servidores, sistemas operacionais/browses, virtualização de ambientes e segurança das operações sempre estão na cabeça dos Gestores de TI quando falam de ERP, sendo que merece destaque alguns pontos, que são:

=> Cloud Computing (Nuvem) x On Premise: Colocar todas as aplicações e dados numa infraestrutura interna (dentro da empresa) ou num serviço na web com fácil compartilhamento? O que é mais interessante? Se for na web (utilizando a Nuvem) devo utilizar Nuvem Pública, Privada ou Híbrida? Estou preparado para aproveitar os recursos que preciso? Eu realmente sei o que posso ter e como isso pode impactar no meu dia a dia?

=> Ambiente de Teste: Realmente para mim é um verdadeiro mistério do por quê que a maioria esmagadora das empresas não têm Ambiente de Teste (e nem falamos aqui de Ambiente de Homologação) para os seus ERP. Colocam todo o risco de atualização de versão e de simulações com os parâmetros, cadastros e movimentos no Ambiente de Produção. Isso é inaceitável!

=> Contingenciamento: Hoje em dia está muito mais fácil e barato gerar ambientes de contingenciamento, seja da composição de sistemas/dados ou de links/rede, mas mesmo em negócios de média/alta criticidade, vemos gestores de TI com extrema dificuldade de aprovar com os gestores de negócio esse tipo de investimento. Uma vez eu conversei com o Gestor de TI de uma montadora de carros e ele me disse que mantinha um ambiente de contingenciamento com estrutura dedicada (que tem o mais alto custo possível) e que em 3 anos teve que usar por 3 dias, onde conseguiu relatar aos seus superiores hierárquicos um retorno financeiro muitas vezes maior que todo o investimento feito.

=> Integrações: Cada vez mais usamos os recursos de integrações para aumentar as potencialidades e a produtividade dos ERP. Apesar de terem fornecedores que simplesmente não documentam a sua base de dados ou até tentam evitar que o seu cliente possa acessá-la para diversos usos, estamos vendo movimentos bastante positivos de ações de integrações nas empresas, seja por intervenções diretas em Banco de Dados (principalmente com tabelas intermediárias), com o uso de API’s (programa de acesso), ETL’s (ferramenta de integração) ou ESB´s (ferramenta de integração).

=> Mobilidade: Não tem gestor de TI que não esteja pensando em alguma estratégia de mobilidade para a sua empresa, e com isso questões específicas de segurança da informação, plataformas e o próprio device (smartphone, tablet, relógio, óculos de realidade virtual/ampliada e qualquer outro wearable usado na interação com o ERP) precisam passar por processos rigorosos de especificação e por uma aplicação dentro do contexto da operação/gestão da empresa. Por exemplo, estamos vendo cada vez mais casos de aplicação de óculos com sistemas de realidade aumentada vinculada aos ERP, em processos de montagem de grandes equipamentos.

Softwares

A origem dos ERP vem de uma verdadeira “colcha de retalhos” formada por sistemas especialistas integrados por plataformas EAI (Enterprise Application Integration). Nas décadas seguintes, grandes esforços foram feitos pelos fornecedores de ERP para tornar os seus produtos grandes sistemas integrados… um grande bloco de entrega… entretanto, estamos vendo um novo movimento acontecendo onde o ERP é uma grande plataforma, com um conjunto enorme de possibilidades de processos modelados, mas com grande facilidade para integrar com sistemas especialistas e softwares de produtividade do mercado. O princípio é que a base sempre fique a mesma, mas as empresas passam a ter mais escolhas para alavancar o conjunto de processos que ela precisar num determinado momento.

Muitos dos sistemas especialistas são normalmente encontrados como parte de um ERP, mas, na qualidade de produtos de mercado, podem ter características que superam as que um determinado ERP tenha no momento. Neste grupo temos: BI (Business Intelligence), BSC (Balanced Scorecard), Gestão da Manutenção, Folha de Pagamento, PDV (Ponto de Venda), Gestão Orçamentária, Contabilidade, Gestão Fiscal, etc.

Já os softwares de produtividades, são ferramentas que normalmente não fazem parte dos ERP e nem representam um conjunto de processos. São ferramentas que alavancam os processos. Neste grupo temos: Planilhas Eletrônicas, Gerador de Documentos, Gerador de Relatórios, Workflows, BPMS (Business Process Management System), BA (Business Analytics), CAD (Computer Aided Design), Otimizadores de Rotas, Otimizadores de Montagem de Cargas, etc.

Na composição dos ERP, os Softwares podem fazer uma diferença fantástica nos resultados que uma empresa vai obter, e cabe aos gestores das empresas montarem a composição ideal para o seu momento e ficarem atentos às mudanças de demandas que eles têm e as possibilidades sempre mutantes ofertadas pelo mercado. Estamos falando de possibilidades enormes de ganhos de competitividade.

Hardwares

Servidores (on premise), redes, equipamentos de backup, devices, etc. são tratadas na “comunidade” Infraestrutura de TI, aqui estamos falando de equipamentos que podem ser necessários para viabilizar ou alavancar operações, tais como: impressoras, scanners, leitoras tridimensionais de paletes, coletoras de dados, equipamentos de execução de CAM (Computer Aided Manufacturing), hardwares relacionados a IoT (Internet of Things), entre outros. Onde quero destacar:

=> Leitores de Códigos de Barras/QR Code: Apesar de praticamente todos os Fornecedores de ERP tenham condições de trabalhar com Código de Barras e com QR Code em qualquer parte das suas operações e os mesmos terem custos muito baixos de aquisição e de implementação, o mercado empresarial ainda explora muito mal esses recursos. São excelentes oportunidades de ganho de produtividade e de qualidade nos processos que são jogados fora.

=> RFID (Radio-Frequency IDentification): é uma tecnologia que ainda não está na sua plenitude, mas promete gerar saltos evolutivos em vários grupos de processos… os custos dela estão abaixando e o número de fornecedores está aumentando. Essa é uma boa combinação!!!

=> Ambiente M2M (Machine-to-Machine): máquinas comandando máquinas já estão acontecendo cada vez mais em todo o mundo, e os ERP estão diretamente ligadas a operação delas. Essa é outra tecnologia que está ficando cada vez mais barata e que tem ampla possibilidade de utilização. Fiquei muito surpreso em ver alguns casos interessantes de Manutenção Preditiva vinculada a Gestão Operacional de Máquinas sendo feitas automaticamente e gerando todos os controles em sistemas especialistas e/ou num ERP.

Serviços

Nesta “comunidade” dos Ecossistemas dos ERP, encontramos pontos fundamentais que podem gerar desde o sucesso da implantação e operação do ERP até o fracasso completo, com o aborto do ERP em uso. Os serviços são a essência!!!

Certamente não temos serviços mais importantes do que a Implantação do ERP e o Suporte do ERP, mas quando começamos a ver todos os serviços que estão embarcados em cada um dos momentos da maturidade dos ERP, começamos a valorizar outros serviços que o próprio fornecedor do ERP pode disponibilizar, tais como: serviços gerenciados das operações do ERP, DBA (Data Base Administration) remoto do Banco de Dados, Contingenciamento de Operações, Customizações, Integrações, Migrações, Troca de Conhecimentos da Base de Clientes, Alinhamento de Conceitos de Processos, Treinamentos Continuados, etc. Serviços que a sua empresa gera ou poderia gerar, como: Redesenho de Processos, Ajuste de Dados, Verificação de Dados, Redefinição de Regras de Negócio, etc. E ainda Serviços de terceiros, como: Consultorias Especializadas em ERP, Consultorias em Processos de Negócio (Custos, Fluxo de Caixa, etc.) Serviços de Mão de Obra Temporária, Serviços Web, entre outros.

Não se pode pensar em ter um ERP que alavanque a competitividade de uma empresa sem definir e gerenciar os serviços embarcados nele… não dá!!!

Conteúdos

Alguns conteúdos já podem estar “embalados” em serviços e/ou em softwares, e alguns deles já foram comentados em algum momento neste artigo, mas vale a pena falar um pouco mais sobre eles dentro do Ecossistema do ERP porque, de acordo com o grau de investimento e porte da empresa usuária do ERP, este item pode ter mais ou menos relevância.

Todas as empresas usuárias de ERP se beneficiam com o conhecimento embarcado nos sistemas, mas é comum encontrarmos pequenas e médias empresas que conseguem ter ganhos maiores neste item. Em segmentos de negócio de média/alta complexidade, como operações de seguros, hospitais, montagens complexas e fulfillment, a troca de conhecimento é fundamental para o êxito do ERP.

Nesta “comunidade” dos Ecossistemas dos ERP temos webservices fornecendo número de CEP (Código de Endereçamento Postal), mapas vetorizados, conteúdos de redes sociais, entre outros. Temos conteúdos de operações e conceitos fornecidos como treinamentos e materiais e ainda conteúdos passados por serviços de consultoria/assessoria. Sem contar com as grandes possibilidades de troca de conhecimento de tudo que está relacionado com o Fornecedor do ERP.

Já vi vários casos em pequenas empresas que tiveram bons resultados na implantação do ERP porque compraram livros sobre processos que iriam trabalhar e deram incentivos para que todos lessem. Só isso já mudou (para melhor) o cenário.

Montando e Remontando o Seu Ecossistema de ERP

Até aqui, eu acredito que você já tem uma visão geral do que está envolvido num Ecossistema de ERP e já deve estar começando a valorizá-lo um pouco mais. Se você já é um profissional de mercado e se já passou por projetos relacionados com ERP, certamente já se sente a vontade para modelar um Ecossistema, mas o caso que coloquei no início deste artigo (e é um caso muito comum de acontecer) retrata justamente este perfil de profissional num projeto de ERP. Tome cuidado com a sua visão sobre o assunto!!!

Neste caminho quero dar algumas dicas para você:

=> Existem mais possibilidades disponíveis do que você imagina: são incontáveis os recursos possíveis que o mercado tem e aqueles que podem trazer enormes benefícios para a sua empresa. Infelizmente, até mesmo os vendedores de ERP, não estão totalmente atualizados sobre as possibilidades direcionadas para os ERP que eles vendem. Não é fácil se manter atualizado. Cabe a você buscar os conhecimentos que precisa para desenhar o seu Ecossistema de ERP.

=> Muitas das vezes aquilo que você tem ou terá numa condição básica, pode gerar ganhos fantásticos sendo usado de outra forma: como é comum eu fazer o diagnóstico de uma empresa e ver o quanto de recursos de alto ganho já estão disponíveis… a empresa pagou por isso em algum momento, e não é usado, é subutilizado ou a empresa nem sabia que tinha.
Num diagnóstico de ERP de uma distribuidora a Gerente Financeira reclamava muito dos recursos do sistema e ela pedia com grande ênfase que o mesmo fizesse integração bancária, só que, na época, o ERP já tinha este recurso a mais de 5 anos e ela nunca se deu conta disso e as pessoas que poderiam orientá-la também não fizeram.
Em outro diagnóstico para realizar uma Seleção de ERP,  percebi que a empresa já tinha comprado um pacote de licenças de um bom fornecedor de BI (que nunca foi utilizado corporativamente) e estavam cotando a compra de outro.
Em outro projeto de ERP, o Cliente e o Fornecedor do ERP estavam há quase um ano brigando para desenvolver e implementar uma série de funcionalidades no sistema; ao ver o que era, cogitei uma solução unilateral pelo cliente do ERP que foi feita em 3 dias dentro do Banco de Dados a um custo muito baixo. Poderia passar uma eternidade falando de casos como estes.

=> Fique muito atento ao mercado… as coisas mudam muito depressa: hoje em dia eu costumo fazer pesquisas sobre funcionalidades e possibilidades projeto a projeto, e sempre peço ajuda a outros profissionais de mercado, visto que é impossível uma pessoa saber tudo que está acontecendo nesse momento e muito menos todas as tendências. Você precisa aceitar isso. Já tive vários casos de problemas solucionados por uma nova funcionalidade de um sistema especialista ou numa nova modalidade de entrega de um serviço ou ainda numa nova tecnologia de infraestrutura de TI. Tudo isso muda da noite para o dia.

=> Não tenha pena de remodelar o seu Ecossistema de ERP sempre que isso te gerar benefícios: a maioria dos gestores de negócio ou de TI ficam no dilema do reinvestimento, onde querem aproveitar ao máximo o que já foi feito, mas não percebem que já passou o ponto de mudança para um retorno melhor ou até mesmo para viabilizar a competitividade da empresa. Você não pode ter o luxo de se apegar ao investimento feito.

Ficamos por aqui. Indiferente do seu momento de relacionamento com o ERP, espero que você agora se sinta mais confiante e confortável para buscar soluções eficazes no seu Ecossistema.

Mãos e mentes à obra!!!


Mauro Oliveira



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